Tudo aconteceu no clássico entre Inter da Vila x Campista de Ermida no Estádio Gege, o conhecido Lagoão. A partida era também comemorativa a inauguração do campo e o primeiro mandato do prefeito de Divinopólis, Aristides Salgados dos Santos.
O Estádio Lagoao foi uma das primeiras obras do prefeito em seu primeiro mandato. Ele mandou aterrar uma das três lagoas da fazenda do Levindo Ferreira com brita, areia, borra de mineiro e terra. A lagoa ficava entre as ruas São Paulo e Minas Gerais, Itambé e Ipatinga, nos limites terretorial da Vila Belorizonte, e dos bairros São Antônio, Levindo Pereira e Ipiranga
A idealização da obra era uma promessa de mandato para atender aos times do Inter da Vila, do Camilo; do Comercial, do Valderico; do Ipiranga, do Gegê e da Amobi ( Associação dos Moradores da Vila Belo Horizonte e Ipiranga) e ao presidente Jair Miguel e ao senhor Arlindo vice presidente. Os dois trabalharam 24 horas na campanha do então candidato.
Dia do jogo. Toninho Ermida com 999 gols anotados em seu caderninho. Marcar o milésimo gol em um grande encontro como esse seria a sua glória. A cronista Edite Silva, a pena abalizada da cronica divinopolitana e da Academia Divinopolitana de Letras, torcedora ferrenha do Ferroviário, do Esplanada, foi convidada para o chute inicial. Antes, o Francisco Pires de Morais, o Chico Pires, leu aos microfones da ZYH 52, Rádio Cultura de Divinópolis, com sede na rua São Paulo, a cronica da escritora alusiva ao grande encontro intitulada: Toninho Ermida irá marcar o milésimo gol da sua carreira ou não?
O Camilo, treinador e dono do Inter, que não tinha nada de bobo contratou o goleiro Marcial da Cantinha da Rua Minas Gerais, para reforçar o seu time na tentativa de acabar com o sonho de Toninho Ermida. No domingo anterior, o Marcial havia, debaixo de dois palmos de poeira, defendido um pênalti do artilheiro no campo do Minas. Toninho Ermida na tentativa do milésimo gol cobrou o pênalti, saiu vibrando, a poeira subiu e quando a poeira baixou, lá estava o Marcial com o balao de couro debaixo dos braços e gritando: aqui não Toninho Ermida. Aqui tem Marcial. Havia defendido o pênalti daquele que não tinha nunca antes desperdiçado uma cobrança.
Início do jogo: João Alves (João Veio) presidente da Liga Municipal de Desportos de Divinópolis (LMDD), seu vice Toniquinho Torres e o diretor de arbitragem Wantuil Cassimiro de Oliveira anunciam o trio de arbitragem: no apito Odilon de Souza, o Costinha; Bandeira Amarela: Tonho Domingos Benzerol e na bandeira Vermelha, Edinho, da Auto Escola Cônsoli. Zé Miguel, o Miguelão, ficaria encarregado de registrar em súmula o milésimo gol de Toninho Ermida e o Mário Camilo, encarregado de ser o delegado do jogo. Festa total e protocolo nos tins, tins.
Camilo, treinador e dono do Inter, encarregou ao Chocolate uma marcação carrapato em cima do artilheiro Toninho Ermida, com o Zé Pinto na cobertura com a missão de pará-lo a qualquer preço. Boca e Dinho, do Bar, na zaga, de alerta em caso de falha dos dois encarregados de parar o nove do time de Santo Antônio dos Campos. Na pláteia o pai do goleador e verador da cidade Antônio Belarmino a espera do sucesso do filho.
O Costinha, doidinho para marcar um pênalti para ver novamente o duelo Toninho Ermida versus Marcial novamente em ação. Até que arrumou um sinalizando para a marca do pênalti. Peitado pelo Zé Pinto e com ameaça de invasão de campo pelo Zé da Vó e parte da torcida, Costinha desistiu de sua idéia dizendo o que valia não era a assinalação da sua mão, mas a direção do seu pé que marcando tiro de meta.
O primeiro tempo foi tenso e de zero a zero no placar.
De volta do intervalo e assim que o Costinha apitou início do segundo tempo caiu um pé dágua que engrossava a cada segundo, um diluvio total que não tinha como parar. E assim foram nascendo os gols: Zé Eustáquio abriu a contagem para o Inter, Marcinho Chula, que reforçava o time de Ermida, empatou para o Campista. Quentão, outro reforço campisteiro, promoveu a virada fazendo 2 a 1, mas Zé Eustáquio empatou para o Inter debaixo de mar de água e lama. Nada do Toninho Ermida marcar. Passava dos trinta minutos do segundo tempo, quando o Camilo gritou para o Costinha encerrar a partida. Enchargados, os torcedores não arredavam pé. Uns torciam contra o Toninho e outros a favor enquanto as apostam rolavam a solto no bar do Pé. O Costinha rebateu ao Camilo dizendo que só iria acabar o prélio após aos acréscimos, pois já estava bastante enchargado e com as chuteiras pensando mais de que uma locomotiva com seus vagões. Neste interim uma volumosa enxurrada começou a descer do barranco. Atravessava quase todo o campo e ia desaguar no gol defendido pelo Marçal que já encontrava-se todo lameado. Não dava nem mesmo para distinguir o número um às costas.
No capítulo seguinte, já nos acréscimos, ao desviar de uma entrada violenta do Chocolate e se livrar de um carrinho quase mortal do Zé Pinto e ficar vivo, o Toninho Ermida se livrou da bola chutando-a rumo ao barranco pois já era mesmo final de jogo e cansado de tanto apanhar estava entregando os pontos. O goleiro Marcial caminhava-se mansamente para ganhar tempo para buscar a bola e recomeçar o jogo com cobrança de tiro de meta com objetivo ouvir o trilhar do apito final do juiz Costinha. Quando, repentinamente, a bola caiu na vala da enxurrada pegando o goleirão de luvas na mão e foi morrer no fundo da meta. Golaço gritava a torcida e o Toninho Ermida correndo para o abraço e em prantos gritando: É mil é mil. O juiz Costinha vibrava como louco apitando intensamente sem parar como se fosse um mestre de bateria de escola de samba apontando para o centro do campo. Foi a primeira vez que vi um juiz de futebol vibrar tanto com um gol e não ser agredido.
Assim foi o milésimo gol do artilheiro que parou de contar seus gols quando chegou a marca de 1.600 gols. Mais do que Pelé.
Se alguém pensa que isso é só uma historinha inventada, pergunte ao Toninho Ermida, Camilo, Jair Miguel, Aristides Salgado e Edinho, da Auto Escola Consoli, que ainda são vivos e peças participantes desse enredo. Só eles podem confirmar como foi o milésimo gol de Toninho Ermida, essa lenda viva do futebol amador divinopolitano.